quinta-feira, 5 de maio de 2016

Caça às Bruxas (2011)



Por Neilania Rodrigues 

Contém Spoiler



Pensei muito sobre esse artigo antes de começar a escrever. Os motivos nada têm a ver com o gênero (terror?), ou por se tratar de um filme sobre bruxas. Que fique claro, eu adoro filme de terror. O motivo de pensar tanto é porque esse é um filme do Nicolas Cage. Bom, se não ficou claro que não curto muito o referido ator, deixo claro agora: eu não gosto dele, nem dos filmes dele, pelo menos não da maioria. Tudo a ver com roteiros capengas, perucas, eterna cara de sofrimento ou machão com dor de barriga.

          Mas aqui não é o caso. Caça às bruxas é um filme que me diverte muito em sua uma hora e cinquenta e três minutos. Nem vejo o tempo passar. É o motivo? Não é a história superoriginal, nem o mega elenco. Na primeira vez que assisti só conhecia Ron Pealman (Hellboy – 2004), além do Nicolas Cage. Nada disso, o atrativo desse filme é ter uma narrativa sem atropelos e, principalmente, trazer o Nicolas do jeito que ele parece nos filmes, mas que nunca se assume: feio, velho e derrotado.

Ah, a água benta...

O roteiro é de uma simplicidade singela: dois cavaleiros (Cage e Pearlman) que lutaram durante as Cruzadas começam a questionar se esse é mesmo o desejo de Deus após um terrível massacre. Claro, há aquele padre que você (bom, você que não tem a mente tacanha) ia querer ver morto e todas as desafortunadas vítimas do massacre.

         Os dois estão cansados de defender um Deus sangrento e seus nem sempre nobres representantes terrenos. Então, desertam e retornam para casa. Durante o regresso eles entram em contato com a peste negra que está dizimando a população e chegam a uma cidade onde acabam presos por abandonarem seus postos. A punição para tal ato e a morte. Mas, enquanto estão presos, são chamados pelo cardeal local que está morrendo com a peste e lhes faz uma proposta: se eles conduzirem uma garota acusada de bruxaria para ser julgada em um mosteiro, eles serão perdoados.

       É desse ponto em diante que vemos o quanto Behmen (Cage) está desgostoso com a Igreja. Sabendo como funciona o pensamento dos clérigos, “mate todos e deixe que Deus escolha os seus”, ele recusa o serviço, pois sabe que as chances da moça ter um julgamento justo são mínimas. No entanto, depois de ver a jovem ele se compadece e resolve aceitar a incumbência.

      A jornada tem início com tudo para dar errado (claro), afinal o diabo é pernicioso. A caravana é formada pelos dois cavaleiros, mais um cavaleiro de luto, um jovem padre, um ladrão e seguindo-os de perto, um jovem que quer ser iniciado como cavaleiro. A história, um lugar comum. Eles vão seguir um caminho que ninguém conhece direito e o guia é o ladrão. Eles vão atravessar uma floresta conhecida por ser perigosa e ainda tem uma ponte que está se deteriorando no meio, (deu para ver o urubu no ombro dele?).

        De início, parece que o diretor vai jogar um pouco com o fato de a moça ser ou não uma bruxa, estar ou não possuída, mas isso se dilui rápido e fica claro que a moça tem algo de assustador. O que fica implícito é se a garota é conivente ou apenas uma vítima. Enfim, ela joga com os medos de todos e alimenta a necessidade de Behmen de fazer as pazes com sua própria consciência. E esse é o questionamento dele: salvando uma alma pode redimi-lo das atrocidades cometidas no passado?

Feio, velho e derrotado? Never!!!
Como se vê simples e nada pretensioso. O diretor Dominic Sena fez uma narrativa fácil em que você que está acostumado a ver esse tipo de filme e até pode adivinhar o que vai acontecer. Mas o melhor é os dois personagens principais, Behmen, tentando encontrar sua alma, afinal o personagem depende muito daquela cara de dor que o ator sempre sustenta em seus filmes. E Felson, fazendo o tipo bonachão, politicamente incorreto, que se tornou um cruzado para obter o perdão por seus pecados, que eram tantos e tão variados, que se ofereceu logo para 10 anos de serviço.
        A interação dos dois gera algumas boas tiradas, como quando estão na masmorra falando sobre a recusa de Behmen a trabalhar para a Igreja, Felson diz: “você viu a cara do padre quando disse que não ia trabalhar pra eles? Parecia que alguém tinha mijado na água benta.” Ou Behmen contando como uma garota pequena pode derrotar um homem e ficar com seu soldo de um ano e Felson responde: “ah, as coisas que ela fez naquele quarto!”
          Bem, não é um expoente do gênero (nada de terror, mas sim de aventura), mas é um filme divertido, com um bom cuidado de produção, com efeitos razoáveis e que se pagou. Nicolas Cage não está com uma peruca ridícula tentando parecer o “cara”, (sua expressão de dor tem função aqui). Ele é apenas um homem no limite de sua sanidade, lutando pela própria salvação e que tem a sorte de ter um companheiro divertido e leal. Ele consegue suavizar o pior de suas existências, enquanto atravessam um mundo caótico e doente apartados de qualquer esperança.