terça-feira, 10 de maio de 2016

Motoqueiro Fantasma (2007): Porque não se deve fazer acordos com o diabo







Por Neilania Rodrigues
Contém Spoiler




Você diria, “ora isso é simples, não se pode fazer acordos com o diabo porque ele é perigoso!”. Sim, perigoso e traiçoeiro e quando você assiste ao filme Motoqueiro Fantasma (hum!), isso fica bem mais claro.

Ui! Bonitão! Matthew Long
Deixa-me clarear mais o meu ponto: era uma vez um rapaz bonito e simpático (Matthew Long), que morava em um trailer de show de acrobacias de motos, que estava apaixonado por uma bela garota e tinha um pai motoqueiro de quem gostava bastante. O que mais o garoto podia querer da vida. Bem, mas vida é complicada e ninguém passa por este plano sem ter experiências e algumas (talvez a maioria), seja bem difícil. A provação começa quando ele descobre que o pai tem câncer terminal. Sabemos que o desespero, assim como uma mente ociosa, é a porta que o diabo precisa. Levado pela dor, ele convoca Mephisto (Peter Fonda) e faz o tal acordo com sangue, mas nesse caso, puxa, o pé-de-bode pegou pesado.

No outro dia, Johnny encontra o pai vendendo saúde, e pensa: certo, agora tudo vai ficar bem. NÃO! O câncer se vai, mas ele assiste o pai falecer num terrível acidente de moto. É claro, que não foi um acidente, afinal o capiroto está lá. Bem, na cabeça do garoto, o acordo foi para o saco, o diabo não cumpriu a parte dele. Mas como, ele fez aquilo que nós fazemos quando ficamos empolgados com alguma oferta incrível, ele não leu o contrato. Ele desejou que o pai não morresse de câncer, ao invés de desejar que ele não morresse, ou qualquer outro pedido que deveria ser super bem elaborado (como uma pergunta dividida em 27 partes), e também não pediu a via dele do contrato. 
Assim, o mundo de Johnny Blaze vai por água abaixo. Ele perde o pai, e como o diabo vai querer cobrar a dívida, acaba por ter que deixar o amor da sua vida, Roxanne, pois, segundo o acordado, depois que fizer 21 anos, o diabo terá acesso à sua alma. O rapaz vai embora para longe só até que se cumpra a mais sacana parte do acordo: ele se transforma no Nicolas Cage. Pausa para a peruca ridícula!
Pois é, complicado, mas fazer o quê? E se você acha que não pode ficar pior do que isso, fique sabendo que nada é tão ruim que não se possa acrescentar mais um pouquinho de desgraça. O roteiro. Hein? Que roteiro? Ah sim, aquela coisa "liguenta" que devia conectar todo mundo de forma interessante. Bem, isso é ruim demais! Mas vamos a ele: um diabo já é ruim sozinho, mas aqui ele tem um filho (Wes Bentley), chamado Coração Negro!, e como quem sai aos seus não degenera, o menino é pior do que o pai e quer usurpar o trono dele.


Coração Negro está na Terra tentando se apossar de milhares de almas que poderiam aumentar o seu poder e assim permitir a concretização de seus planos malignos. Mephisto, (que não consegue botar o garoto na linha sozinho), procura Johnny e oferece sua alma de volta, para isso, ele deve deter o moleque. A partir daí, são só falas ruins e efeitos frágeis. Johnny se torna o Motoqueiro Fantasma e luta com alguns anjos caídos. No outro dia, acorda em um cemitério e conhece o misterioso Coveiro (Sam Elliot). Ele diz a Johnny que o que aconteceu na noite anterior não foi sonho e que as coisas vão piorar.
Quando retorna a cidade, Johnny encontra o amigo morto e descobre que Coração Negro levou Roxanne. Volta para falar como o Coveiro que conta a ele sobre o contrato de San Verguanza, o contrato mais medonho que se pode imaginar, que colocou um monte de almas sebosas juntas, para que o diabo pudesse tê-las. Segundo o Coveiro, o contrato foi escondido pelo antigo Cavaleiro do diabo, um ranger do Texas, que teria feito um acordo com Mephisto no século 19.
Resumo da ópera, todos vão até o vilarejo onde o contrato está. Johnny o encontra, mas é obrigado a entregá-lo ao Coração Negro para salvar Roxanne (Eva Mendes), que absorve todas as almas do contrato e isso faz com que o Motoqueiro possa usar sua Corrente da Penitência e seu olhar para queimar as almas culpadas e liquidar o diabrete. Mephisto aparece e devolve a alma a Johnny e o quer como caçador de recompensas, mas o Motoqueiro permanece com seu poder e consegue repelir o coisa ruim.

E o que mais do filme? Nada! A Eva Mendes só tem a função de ficar bonita dentro daquelas roupas apertadas, o amigo de Johnny não é cômico o suficiente pra gente lamentar a morte dele. Os diabos não são assustadores como deveriam ser, são diabos de botique, tão arrumadinhos que me dão desgosto e o Coveiro, que na verdade era o antigo cavaleiro, não acrescenta muito. E o que dizer de Nicolas Cage, parece que subiu na moto e entrou no filme errado, não era para ele estar em Motoqueiros Selvagens (2007) com John Travolta e companhia? Ele parece se encaixar melhor aqui. 
Nem de longe este filme carrega o espírito do Motoqueiro Fantasma. Na verdade, é tão ruim que nada pode justificar o 2, que nem merece um comentário separado de tão caricato e pobre.

O Motoqueiro Fantasma é um conto gótico de terror. Daqueles que se conta à noite em uma roda de pessoas com uma luz bruxuleante ou como apareceria em uma antiga série de TV chamada O Carona (1983). Aquelas histórias que causam um arrepio pelo corpo e te fazem olhar por sobre o ombro. O Motoqueiro surge após o anoitecer com sua moto envenenada e sua cabeça flamejante para trazer justiça a este mundo e queimar os pecadores. Então, se você estiver na estrada durante a noite e surgir atrás de você uma figura cercada por fogo, tenha certeza de estar com a consciência limpa, pois do contrário, o Motoqueiro veio para buscá-lo!