Por Neilania e Neivania Rodrigues
Contém alta voltagem de Spoiler
Este ano, um dos maiores clássicos dos filmes de adolescentes e que marcou a vida de muita gente por aí, Curtindo a Vida Adoidado[1] estará completando 30 anos. Hoje, campeão das Sessões da Tarde e sem exageros, um cult.
Se você assistiu e vem com o discurso que “são apenas garotos que estão matando aula”, então, você não teve adolescência ou não entendeu a mensagem do filme. Não é sobre “matar aula”, é sobre relações de amizade, de família e também na escola e, porque não, viver um pouco perigosamente. Eles sequer pensam em fazer isso todo dia ou passar a viver em um eterno "day off" (dia de folga).
Veja o filme:
Matthew Broderick é Ferris Bueller um garoto que alegre, que na escola consegue transitar por todos os grupos: atletas; nerds; e esquisitos de plantão (legitimamente agradando gregos e troianos, quem nunca?).
Uma manhã ele acorda achando o dia está lindo e resolve não ir à escola para “melhor aproveitá-lo”. Mas ele não pretende fazer isso só e convence o melhor amigo Cameron Frye (Alan Ruck) e a sua namorada, Sloane Peterson (Mia Sara) a acompanha-lo na jornada também.
Ele finge que está doente, convencendo os pais, Katie Bueller (Cindy Pickett) e Tom Bueller (Lyman Ward) a ligar para a escola e dispensá-lo, o que deixa furiosa a irmã, Jeanie Bueller (Jennifer Grey) do mesmo.
Ela é “obrigada” a ir à escola, segundo a mesma, mesmo que estivesse morrendo, enquanto o irmão se prepara para o dia.
A escola é pintada como algo chato, estudantes abobados, professores chatos e desmotivados, mas Bueller é uma festa. Todos o amam e até fazem campanha para arrecadar dinheiro para um órgão quando sabem que ele estaria doente.
Apenas a irmã e o diretor da escola, Ed Rooney (Jeffrey Jones) sabem quem é Ferris de “verdade”, ou pelo menos pensam.
Enquanto a irmã se revolta e acaba indo parar na delegacia onde tem um encontro com sua própria verdade, os três festivos garotos visitam lugares interessantes pela cidade tal como ver de um prédio bem alto as ruas embaixo e um museu.
Eles também almoçam em um restaurante caro, assistem a uma partida de baseball, participam de uma parada onde Bueller ainda canta, tornando essa parte icônica.
Eles enganam, mas também são enganados e depois eles têm que enfrentar e pagar pelos seus erros.
A todo o momento, Ferris interrompe a ação para falar com o espectador, explicar seus motivos e fazê-lo entender qual a finalidade de tudo aquilo. É um dos primeiros filmes a que quebrar a quarta parede[2], ou seja, o personagem fala diretamente ao público.
Bueller também fala de decisões que todos terão que tomar para o futuro e que não podem fugir disso. Fala de enfrentamento social e relacionamentos de família. Fala também de paz, pois segundo o garoto: “os ‘ismos’ não são bons. A pessoa não deve acreditar em ‘ismo’, mas em si mesmos e nas pessoas”.
O filme não é sobre você matar aula sempre que o dia tiver bonito, mas saber aproveita-lo, ou quando fazê-lo. Tem diversas coisas positivas: eles pretendem fazer faculdade; Cameron deve tentar enfrentar seus pais que são rigorosos; e as ações dos jovens permitem que a irmã invejosa de Bueller descubra-se uma pessoa que ama o irmão e que o grande problema de sua vida é a forma como ela se vê e ao mundo ao seu redor.
O diretor da escola que persegue os garotos representa uma sociedade engessada, que parece nos empurrar o tempo apenas em uma direção e um único caminho, enquanto Ferris nos diz, há muitas coisas a nosso redor e não podemos perder isso nunca de vista. Não se está defendendo que ele enganou os pais, o diretor, burlou as nove faltas e mais outras coisas politicamente incorretas, mas nos dá aquele gosto que às vezes podemos e até devemos jogar as coisas para o alto e apenas aproveitar o dia.
Nunca há como se esquecer de Ferris em cima do carro cantando Twist and Shout (The Beatles)dos Beatles, enquanto seu pai (um desses caras tranquilões e que vai levar 15 dias para morrer de repente) dançando.
O final é tão clássico que até o Deadpool (2016) o imitou, muito bom! Veja o filme e escolha um day off para você. Veja se consegue fazer pelo menos a metade.
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[1] Lançado nos EUA, 11/06/1986 e no Brasil, 19/12/1986.
[2] "A quarta parede é a barreira imaginária que separa os personagens do público. A ação de uma peça, filme ou série acontece dentro dessas quatro paredes. Quando essa "caixa" é rompida, acaba a ilusão de que o que se está vivendo (personagem)/ vendo (público) é real. A quarta parede é a barreira imaginária que separa os personagens do público. A ação de uma peça, filme ou série acontece dentro dessas quatro paredes. Quando essa "caixa" é rompida, acaba a ilusão de que o que se está vivendo (personagem)/ vendo (público) é real". BRIDI, Natália. 15 filmes que quebram a quarta parede: Quando o cinema fala com você. 12/02/2016. Omelete. Filmes.
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